domingo, 8 de março de 2009

Análise pessoal do processo - por Fernando Lopes

Faz um pouco mais de um mês que conversei pela primeira vez com a Dora e a Luciana sobre a vontade de montar um peça de rua. Falei sobre os dez anos da morte de Plínio Marcos e como seria interessante pesquisar sua vida e obra para construção de um novo texto, livremente inspirado. Inicialmente seria uma pesquisa sobre as mulheres na obra de Plínio. O titlulo do projeto era "Mulheres de Plínio". Queria trabalhar só com mulheres, talvez, pelo fato, de ter entrando no universo feminino nas minhas ultimas montagens, sentia que este assunto ainda não havia se esgotado em mim. Quando começamos a pensar em fazer isso juntos, percebi que a Luciana e a Dora precisavam participar do processo de escolha do tema. Dai decidimos juntos que seria uma pesquisa sem foco. O que todos concordavam é que tinha de manter a temática retirada da obra de Plínio Marcos, uma antropofagia (PlínioMarcofagia).
Neste meio tempo fiz uma campanha entre os amigos e consegui junto a Ong Pra Sempre a quantia de Cinco Mil Reais, não é muito dinheiro mas vai facilitar em muito a produção.
Demos início aos trabalhos. Comecei a convidar possíveis parceiros para formar uma equipe de colaboradores. Pensei primeiro na Maíra Cesarino, pois sabia que o mestrado dela em Capoeira para o ator iria contribuir com nosso processo de pesquisa. Não demorou muito para descobrirmos a capoeira na linguagem "Malandra" de Plínio Marcos. Depois convidei a Gyu Duarte para dar uma oficina de palhaço, neste caso, sabia da ligação do autor com o universo do palhaço de circo, é possível reconhecer nas personagens das peças do nosso autor homenageado a figura do palhaço, do bufão. Certamente pelo fato dele mesmo ter sido palhaço de circo.

Após estas três semanas de trabalho posso afirmar que todas as escolhas feitas foram acertadas, a produção (eu) está de parabéns. Já podemos desenhar um espetáculo de possibilidades.

Comecei a procurar outros parceiros. Em uma festa encontrei o Moacir Prudêncio, em pouco tempo de conversa pude perceber, com meu faro para talentos, que estava diante de um possível colaborador. Sem cerimonia fiz o convite e ele de pronto aceitou. Na ultima Segunda-feira (08/12) fizemos o primeiro encontro na rua com o Moacir. Antes ele tinha vindo aqui em casa, com textos e um vídeo para um troca de ideia sobre a seu Work Shopping e como ele poderia contribuir. Agora nós fomos para a rua da início aos trabalhos com este jovem brilhante, apaixonado, curioso, artista. Moacir se soma ao trabalho com muita propriedade.

Aos poucos nossa equipe vai ganhando forma, se compreendendo e compreendendo o trabalho. No meio disto tudo estou encarregado de levar e trazer informações, cruzando as experiências.

Agora na Quinta-feira vamos começar o trabalho de voz com a Kátia Kouto. Belo Horizonte é incrível, só precisei convidar a Kátia e ele se mostrou muito interessada em fazer parte, não há duvidas de sua competência e te-la conosco é uma honra desmedida. Ela já teve a oportunidade de conhecer a potente vozes das duas atrizes e sabe o que deve trabalhar para encorpar ainda mais as vozes das duas.
A equipe ainda contou com uma única aula de percussão da Milagros que, apesar de ter sido um rápido encontro, nos fez enlouquecer com o ritmo, pulsação e as possibilidades da percussão. Vamos tentar dar continuidade a este trabalho, vai depender do tempo (agenda) da Milagros.

Temos ainda o Fernando Muzzi que vai fazer a direção musical. Ele está aguardando o momento certo para entrar no trabalho. Ter o Muzzi em um processo de montagem é contar com suas experiência e talento premiado.

Não posso deixar de falar do trabalho dobrado que a Dora Sá está desempenhado. Além de atuar ela é a responsável por transformar nossos esforços em dramaturgia. Sua dedicação tem dado resultado e já aponta caminhos. Juntas, a Dora e a Lu (Luciana Bahia), formam uma perfeita dupla, são talentosas, experientes e dedicadas. O trabalho do diretor é facilitado quando lida com tantos talentos e vocações. Minha única preocupação é se vou dar conta de administrar tudo que estamos produzindo.

São apenas três semanas de trabalho e no momento tudo caminha com o cuidado necessário para uma criação artística. No final de tudo é isto que importa, a obra de arte que pulsa, viva, latente e a flor da pele comunica.

Somos poetas, filósofos e cientistas. Tudo que estamos vivendo, no momento da apresentação deve atravessar a plateia, uma explosão de poesia.

Nestes dias de trabalho, pudemos sentir o gostinho, o paladar de uma processo de montagem. Foram poucos dias profundos, quase indizível, se não fosse o fato de ser dizível. As vezes sou muito racional. preciso transformar tudo em algo que se possa pegar, agarrar, sentir, cheirar, saborear. Me sinto obrigado a guardar. Se isso não for uma prisão pode ser muito útil, no caso da criação de um produto final.

Acredito na trajetória, no ritual magico dos acontecimentos aleatórios. Desde o inicio sei onde quero chegar. Parece estranho em se tratando de um criação colaborativa. De alguma maneira me norteio pelo o indicador de um bússola quebrada que sempre aponta a direção certa. Neste raciocínio vou me agarrando aos encontros dos "bem chegados". Ontem (08/12), conversando com o Moacir, percebi que a equipe está toda antenada. Tenho a impressão que as atualizações do Diário de Bordo e as informações que passo, surtiram o efeito esperado. Tenho feito um diário de bordo e envio atualizado toda semana, mantendo todos antenados no processo. Fora que despejei no meu orkut uma variedade de imagens que são inspirações para o processo.

Vale ressaltar o papel da Internet no nosso trabalho. As informações trocadas via orkut, MSN, blog e e-mail estão sendo determinantes. Fora, a possibilidade do envio de arquivos como, fotos e mensagens, tenho encontrando pessoas, gente virtual e virtuosa que interferem diretamente, como é o caso do artista Fernando Lomardo, que depois de algumas ideias trocadas sobre cenário em uma comunidade no orkut, me enviou desenhos de cenários que me ajudaram a ver o espaço estético que estava só no pensamento.



Pensar estética antes mesmo de se ter uma peça é perigoso, se não tomar o devido cuidado pode ser um fator limitador. Mas este desafio me atrai, no sentido do espaços e suas possibilidades. Por isso estou propondo e pensando imagens que inspirão a criação de uma historia ou muitas historias. Sabemos do retrato que Plínio Marcos descreve e dentro deste, ou a partir deste recorte é que vamos buscar os elementos, os objetos, a estética. Nossa construção passa pelo Plínio, pensa e cria imagens, recorta a cidade, cria cartão postais, vive o encontro do palhaço, caminha para o bufão, constroi um corpo novo, fortalece a voz, visualiza o teatro de rua, suas possibilidades e limitações, questiona a própria existência e se agarra as possibilidades. Tudo isso para criar a imagem das imagens, imagem movimento, imagem viva, imagem corpo e afecção, Uma maneira legitima de criar a si mesmo, este novo ser quer comunicar, quer encontrar. Daí o texto vem vindo com a força da necessidade.
Somente no encontro, em relação, há transformação, criação. Tenho certeza que os encontros que houveram desde o início do trabalho já nos transforma a todos. Mesmo que eu saiba onde chegar, sou apenas um passageiro, um colecionador de sensações, um observador atento, sem pressa de chegar no óbvio, o grande final.
O fim é o início, acredito no circulo infinitamente infinito.
Não sei se consegui ser claro nesta analise pessoal dos momentos de criação da peça "As Quebradas do Grande Circo Mundaréu" - Sigamos dai para adiante.
Feliz 2009 para todos!

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